quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cine Vest

O CineVest é um projeto dos alunos de história da UFJF, que tem o intuito de trazer até os alunos do ensino médio da rede pública um complemento para o conteúdo do vestibular. Pretendemos fazer isso projetando filmes com o tema voltado para o vestibular, elaborando uma discussão sobre o filme após a sua exibição. O projeto será realizado às 9h00min, aos sábados, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes.

Programação

O primeiro filme, do dia 18, será sobre a Antiguidade Clássica.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Biblioteca Municipal Murilo Mendes

A Biblioteca Municipal Murilo Mendes tem em seu acervo atualmente, um total de 46.997 livros, divididos entre a Sede (41.642) e a Sucursal de Benfica (5.335). Possui também um interessante acervo de jornais e revistas de circulação nacional e local. Estão ainda disponíveis livros na linguagem Braille e fitas cassete para deficientes visuais.

Todo o acervo é formado basicamente por doações da comunidade juizforana.

Quem foi Murilo Mendes?

Murilo Monteiro Mendes, nasceu dia 13 de maio de 1901, em Juiz Fora, Minas Gerais. Aos 9 anos diz ter tido uma revelação poética ao assistir a passagem do cometa Halley. Em 1917, uma nova revelação: fugiu do colégio em Niterói para assistir, no Rio de Janeiro, às apresentações do bailarino Nijinski. Muda-se definitivamente para o Rio em 1920. Os anos de 1924 a 1929 foram dedicados à formação cultural e à luta contra a instabilidade profissional. Foi arquivista no Ministério da Fazenda e funcionário do Banco Mercantil. Nesse período publica poemas em revistas modernistas como "Verde" e "Revista de Antropofagia". Seu primeiro livro, "Poemas", é publicado em 1930. É agraciado com o Prêmio Graça Aranha. Converte-se ao catolicismo em 1934. Torna-se inspetor de ensino em 1935. Em 1940, conhece Maria da Saudade Cortesão, com quem se casaria em 1947. Com tuberculose, é internado em sanatório na região de Petrópolis, em 1934. Em 1946, torna-se escrivão da 4ª Vara de Família do Distrito Federal. Cumpre missão cultural na Europa, proferindo diversas conferências. Muda-se para a Itália em 1957, onde se torna professor de Cultura Brasileira na Universidade de Roma. Foi também professor na Universidade de Pisa. Seus livros são publicados por toda a Europa. Em 1972, recebe o prêmio internacional de poesia Etna-Taormina. Vem ao Brasil pela última vez. Murilo Mendes morre em Lisboa, no dia 13 de agosto de 1975.

Módulo I do triênio 2009-2011

Gregório de Matos

SONETOS LÍRICOS E SATÍRICOS

A) À cidade da Bahia


Triste Bahia! oh! quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh! Se quisera Deus que, de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!



B) Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia



A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.



Em cada porta um bem freqüente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.



Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,



Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres:

E eis aqui a cidade da Bahia.



C) Contemplando nas cousas do mundo desde o seu retiro, lhe retira com o seu apage, com quem a nada escapou da tormenta



      Neste mundo é mais rico o que mais rapa:

      Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;

      Com sua língua, ao nobre o vil decepa:

      O velhaco maior sempre tem capa.

      Mostra o patife da nobreza o mapa:

      Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;

      Quem menos falar pode, mais increpa:

      Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

      A flor baixa se inculca por tulipa;

      Bengala hoje na mão, ontem garlopa,

      Mais isento se mostra o que mais chupa.

      Para a tropa do trapo vazo a tripa

      E mais não igo, porque a Musa topa

      Em apa, epa, ipa, opa, upa.



D) Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes



Que me quer o Brasil, que me persegue?

Que me querem pasguates, que me invejam?

Não vêem que os entendidos me cortejam,

E que os nobres é gente que me segue?



Com o seu ódio a canalha que consegue?

Com sua inveja os néscios que motejam?

Se quando os néscios por meu mal mourejam,

Fazem os sábios que a meu mal me entregue.



Isto posto, ignorantes e canalha,

Se ficam por canalha, e ignorantes

No rol das bestas a roerem palha:



E se os senhores nobres e elegantes

Não querem que o soneto vá de valha,

Não vá, que tem terríveis consoantes.



E) Aos principais da Bahia chamados os Caramurus



Há coisa como ver um Paiaiá

Mui prezado de ser Caramuru,

Descendente de sangue de tatu,

Cujo torpe idioma é Cobepá?



A linha feminina é Carimá

Muqueca, pititinga, caruru,

Mingau de puba, vinho de caju

Pisado num pilão de Pirajá.



A masculina é um Aricobé,

Cuja filha Cobé, c'um branco Paí

Dormiu no promontório de Passé,



O branco é um Marau que veio aqui:

Ela é uma índia de Maré;

Cobepá, Aricobé, Cobé, Paí.



F) A certa personagem desvanecida



Um soneto começo em vosso gabo:

Contemos esta regra por primeira,

Já lá vão duas, e esta é a terceira,

Já este quartetinho está no cabo.



Na quinta torce agora a porca o rabo:

A sexta vá também desta maneira:

na sétima entro já com grã canseira,

E saio dos quartetos muito brabo.



Agora nos tercetos que direi;

Direi que vós, Senhor, a mim me honrais

Gabando-vos a vós, e eu fico um rei.



Nesta vida um soneto já ditei;

Se desta agora escapo, nunca mais:

Louvado seja Deus, que o acabei.



G) Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela



Não vira em minha vida a formosura,

Ouvia falar nela cada dia,

E ouvida me incitava, e me movia

A querer ver tão bela arquitetura:



Ontem a vi por minha desventura

Na cara, no bom ar, na galhardia

De uma mulher, que em Anjo se mentia:

De um sol, que se trajava em criatura:



Matem-me, disse eu vendo abrasar-me,

Se esta a cousa não é, que encarecer-me

Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:



Olhos meus, disse então por defender-me,

Se a beleza heis de ver para matar-me,

Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.



H) Rompe o poeta com a primeira impaciência querendo declarar-se e temendo perder por ousado



Anjo no nome, Angélica na cara.

Isso é ser flor, e Anjo juntamente,

Ser Angélica flor, e Anjo florente,

Em quem, senão em vós se uniformara?



Quem veria uma flor, que a não cortara

De verde pé, de rama florescente?

E quem um Anjo vira tão luzente,

Que por seu Deus, o não idolatrara?



Se como Anjo sois dos meus altares,

Fôreis o meu custódio, e minha guarda,

Livrara eu de diabólicos azares.



Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,

Posto que os Anjos nunca dão pesares,

Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.



I) Pergunta-se neste problema qual é maior, se o bem perdido na posse, ou o que se perde antes de se lograr? Defende o bem já possuído



Quem perde o bem, que teve possuído,

A morte não dilate ao sentimento,

Que esta dor, esta mágoa, este tormento

Não pode ter tormento parecido.



Quem perde o bem logrado, tem perdido

O discurso, a razão, o entendimento,

Porque caber não pode em pensamento

A esperança de ser restituído.



Quando fosse a esperança alento à vida,

Té nas faltas do bem seria engano

O presumir melhoras desta sorte.



Porque, onde fala o bem é homicida

A memória, que atalha o próprio dano,

O refúgio, que priva a mesma morte.



J) Namorado, o poeta fala com o arroio



Como corres, arroio fugitivo?

Adverte, para, pois precipitado

Como soberbo, como o meu cuidado,

Que sempre a despenhar se corre altivo.



Toma atrás, considera discursivo,

Que esse curso, que levas apressado,

No caminho, que empreendes despenhado

Te deixa morto, e me retrata vivo.



Porém corre, não pares, pois o intento,

Que teu desejo conseguir procura,

Logra o ditoso fim do pensamento.



Triste de um pensamento sem ventura,

Que tendo venturoso o nascimento,

Não acha assim ditosa a sepultura.



K) A um penhasco vertendo água



Como exalas, penhasco, o licor puro,

Lacrimante a floresta lisonjeando?

Se choras por ser duro, isso é ser brando,

Se choras por ser brando, isso é ser duro.



Eu, que o rigor lisonjear procuro,

No mal me rio, dura penha, amando;

Tu, penha, sentimentos ostentando,

Que enterneces a selva, te asseguro.



Se a desmentir afetos me desvio,

Prantos, que o peito banham, corroboro,

De teu brotado humor, regato frio.



Chora festivo já, cristal sonoro;

Que quanto choras se converte em rio,

E quanto eu rio, se converte em choro.



L) Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem



Ardor em firme coração nascido;

Pranto por belos olhos derramado;

Incêndio em mares de água disfarçado;

Rio de neve em fogo convertido:



Tu, que em um peito abrasas escondido;

Tu, que em um rosto corres desatado;

Quando fogo, em cristais aprisionado;

Quando cristal em chamas derretido.



Se és fogo como passas brandamente,

Se és neve, como queimas com porfia?

Mas ai, que andou Amor em ti prudente!



Pois para temperar a tirania,

Como quis que aqui fosse a neve ardente,

Permitiu parecesse a chama fria.














Módulo II do triênio 2008-2010